Acusação é feita por ala do PRTB contrária ao dirigente e está sob análise no TSE; procurado, ele não se pronunciou
Brasília
O presidente nacional do PRTB, Leonardo Avalanche, é acusado por adversários dentro do partido de vender candidaturas, fazer ameaças e fraudar filiações.
A acusação foi protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo secretário-geral da legenda, Marcos Andrade, e pela ex-vice-presidente Rachel de Carvalho, que diz ter deixado o posto após sofrer ameaça de morte. Procurado, Avalanche não respondeu à reportagem.
Leonardo Avalanche (à direita na foto) posa para foto com Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo – @leonardoavalanche no Instagram/Reprodução
Eles pedem à corte eleitoral que destitua Avalanche do comando do partido. Sigla pela qual Pablo Marçal concorre à Prefeitura de São Paulo, o PRTB vive um racha interno. A presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, negou pedido de concessão de decisão liminar (provisória) de afastamento, “sem prejuízo de exame posterior mais detido da causa”.
“As alegações não podem prescindir da produção de provas em juízo, observado o contraditório, o que afasta a concessão da tutela de urgência antes da devida instrução processual, sem a oitiva do requerido”, afirmou a magistrada.
A ação, noticiada pelo portal G1, afirma que o chefe do partido vende postos de comando na legenda.
“Leonardo utiliza o partido como seu empreendimento privado. Para atuar, montou um verdadeiro time de vendas, que negocia com diretórios do país inteiro posições diretivas no partido e posições de candidaturas para o pleito municipal de 2024”, diz a peça, protocolada em 19 de junho no TSE.
A ex-vice-presidente afirma que deixou o posto após ser coagida: “Tais constrangimentos continuaram e caminharam para coações que culminaram em ameaças de morte que geraram o seu ato de renúncia do cargo, assinada na data de 3 de abril de 2024”.
Além disso, Avalanche também é acusado de desfiliar no PRTB e filiar em outro partido 77 pessoas.
“A facilidade com que se prova a fraudulenta filiação de mais de 70 pessoas em outro partido (Mobiliza), à contrariedade de suas vontades, sem sequer lhes dar conhecimento, registrando tudo nos sistemas eleitorais demonstra ou muita ingenuidade, ou muita confiança no domínio sobre o sistema judicial”, diz.
Como mostrou a Folha, Avalanche aparece em áudio afirmando a um correligionário que mantém vínculos com integrantes da facção criminosa PCC.
A gravação foi feita em fevereiro deste ano durante conversa com Thiago Brunelo, filho de um dos fundadores do partido. O diálogo entre os dois na época ocorreu em um contexto de disputa interna pela presidência do PRTB, após o TSE ter decretado intervenção na sigla.
O encontro foi pedido por Avalanche e ocorreu em um restaurante de beira de estrada em São Paulo, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto. O político, que aparentava tentar mostrar influência sobre autoridades para conquistar o apoio de Brunelo, não sabia que era gravado.
“Não tem o Piauí, de [inaudível]? Não tem o chefe do PCC que está solto? Ele é a voz abaixo”, disse Avalanche, referindo-se ao seu motorista. “Ele nunca mexeu com política. Hoje ligaram para o menino, né, lá dentro da cadeia e falaram: ‘Estou trabalhando pro Avalanche de motorista’.”
O Piauí citado por Avalanche é o ex-chefe do PCC na favela de Paraisópolis (SP) Francisco Antonio Cesário da Silva. O motorista do político seria, na versão dele, um aliado do criminoso na facção.
O dirigente partidário ainda disse que foi o responsável pela soltura de André do Rap, outro chefe do PCC. Ele foi posto em liberdade por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2020.
“Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. A turma não sei se vai te contar isso. Esse é o meu trabalho, entendeu? A próxima, agora, a gente vai botar um lugar acima dele. Esse é o meu dia a dia […] Eu faço um trabalho bem discreto”, afirmou Leonardo, segundo o áudio.
Ele afirmou que não reconhece a própria voz na gravação e nega vínculo com facção.