Alunos distantes das salas de aula há 8 meses no Ceará estão vulneráveis a riscos sociais e emocionais, dizem especialistas

Estudantes da rede pública relatam angústia gerada pela ausência de atividades extracurriculares e momentos de sociabilidade. Escolas das redes municipal e estadual

OI

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Estudantes da rede pública relatam angústia gerada pela ausência de atividades extracurriculares e momentos de sociabilidade.

Escolas das redes municipal e estadual do Ceará estão fechadas desde março de 2020, quando o governo do estado publicou o primeiro decreto de isolamento social contra a Covid-19. Oito meses depois, jovens estudantes permanecem sem atividades extracurriculares e estão mais expostos a riscos sociais e emocionais, segundo especialistas.

“O colégio era o espaço onde eu sabia que minha vida ia mudar, ganhar uma nova etapa”, conta Milena Barros, 16, que cursa o 1º ano do Ensino Médio em uma escola estadual de Fortaleza. “No começo, pensei que ia ser só um mês de quarentena. Já vamos concluir o 1º ano e nem sabemos se vamos começar o 2º ano dentro de casa ou na escola. Entrar no Ensino Médio gera toda uma expectativa de como vai ser, e a gente não conseguiu aproveitar nada disso”, lamenta a estudante.

Milena diz sentir falta do espaço da biblioteca, que gostava de frequentar para além das aulas. “Tinha uma fichinha que você ia anotando cada livro que começasse a ler, e eu tinha a meta de conquistar a fichinha de ouro, estava muito animada. Mas aí veio tudo isso, né? E afastou a gente”, lembra. Hoje, além da leitura em casa, ela se dedica a testar receitas culinárias na cozinha de casa.

A falta da escola também afeta Júlia Maria Rodrigues, 15, que interrompeu a prática do esporte junto com o time. “Vôlei é uma atividade que eu amo, e logo que ia começar a nova equipe de vôlei na escola, veio a pandemia, e aí foi interrompida. Foi muito frustrante, porque você procura dar o seu melhor e vem um impedimento, que acaba gerando muita ansiedade”, percebe.

A psicóloga e psicopedagoga Ticiana Santiago considera que “perder a interação entre pares, que é constitutiva da identidade de crianças e adolescentes”, é um dos maiores desafios para os estudantes da rede pública. Para ela, a pandemia deixa meninos e meninas vulneráveis não só a riscos emocionais, educacionais e psicológicos, mas também sociais.

“A escola não é só espaço de instrução, mas, principalmente, para populações de maior situação de risco e vulnerabilidade socioeconômica, é referência para proteção social. Tem famílias com casos de abuso, exploração, omissão ou mesmo de precariedade. Os alunos faziam refeições lá, e eram cuidados. Pra muitas famílias, é na escola que eles têm projeto de vida. Fora da escola, muitas crianças estão sujeitas à situação de rua, trabalho infantil, e seria muito difícil resgatá-las”, observa Santiago.

Carolina Ramos, psicóloga e analista do comportamento, destaca que “a escola tem o papel de ensinar as matérias básicas, mas também de impor regras, disciplina e prover uma rotina”. “As escolas públicas têm uma estrutura que, se retirada, muitos alunos não conseguem suprir, diferentemente da particular. Quando a criança ou adolescente se vê sem isso, é impactada”, completa.

A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou, em nota, que “tem orientado as escolas a promoverem a busca ativa, e também ações para manter o vínculo entre escola e alunos para que se sintam apoiados”. Outro projeto que “está em fase de implantação” são os Grupos de Apoio à Permanência Estudantil, “para os alunos oferecerem apoio mútuo à permanência e integração dos demais em aulas e atividades propostas, sempre em parceria com os professores diretores de turmas e Gestão Escolar”.

Em Fortaleza, a Secretaria Municipal de Educação (SME) afirma ter criado “um sistema de acompanhamento diário da frequência, como instrumento de erradicar a evasão escolar e efetivar o direito de aprender”. Conforme a Pasta, 98,1% dos alunos do ensino fundamental realizaram atividades e interagiram com os professores.

Fonte: Portal de Noticias G1

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