Padre Agemiro: essa rua conta Nossa História

A dedicação que Padre Argemiro Rolim dispensou, durante anos, a comunidade mauritiense, apoiado na sua grandeza como ser humano, na humildade dos

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A dedicação que Padre Argemiro Rolim dispensou, durante anos, a comunidade mauritiense, apoiado na sua grandeza como ser humano, na humildade dos fortes e na simplicidade sem pretensões, torna qualquer homenagem a sua pessoa um ato simbólico, registro de uma existência de amor, voluntarismo e doação aos fiéis de sua Igreja.

Ao nominar de Padre Argemiro à rua que tem início na Padre Maranhão, bairro Dom Bosco, cruza o bairro Serrinha e terminar no Novo Mauriti, ao interceptar a rua Das Flores, é a marca de um signo de reverência histórico a um dos grandes benfeitores da Igreja Católica em nossa terra; tal qual João cuidou e apascentou o rebanho do Senhor, “não por torpe ganância, mas de ânimo pronto” assim, o fez durante todo seu ministério sacerdotal em Mauriti.

Padre Argemiro Rolim é um homem de origem humilde, como registra em suas memórias: “Nasci em 1921, a 24 de dezembro, numa casa de taipa, num sítio chamado Horizonte (ou mais comumente Unha de Gato), na freguesia de Lavras da Mangabeira”; Horizonte distrito de Quitauis. Os pais Bonifácio Guedes Rolim, dos Rolim de Cajazeiras Pb; a mãe Maria Auxiliadora de Oliveira (vulgo Dora), como ele dizia “modelo de paciência cristã, profundamente religiosa, um coração bom”.

Em 1937, depois da colheita do arroz, em seu próprio roçado, que capinou e colheu, ao vender sua produção, viajou na companhia do pai para Cajazeiras, onde com ajuda de parentes se matriculou no Colégio Padre Rolim; dois anos depois de vencer muitas dificuldades, foi estudar no seminário do Crato (1939). No Crato, enquanto se dedicava aos estudos, exerceu atividades de enfermeiro, professor de religião e sacristão por seis meses.

Em 1945 toma o trem em Crato com destino a Fortaleza para no dia 9 de fevereiro ingressar no Seminário Maior, carregando consigo o lema “Onmia Natione Dei Voluntatis” e a magnanimidade dos santos. Após seis anos torna-se sacerdote, 1950; em sua terra natal, Quitaius: “ergue  o pão para tornar-se o corpo de Jeus Cristo, dia 10 de dezembro de 1950”, resa sua primeira missa.

No mês de janeiro de 1951, a Diocesa, nomea-o vigário da paroquia de Cococi, “município de Tauá, nos confins dos Inhamuns”; em face das limitações da localidade, passou a residir na Vila de Parambu, um lugar mais desenvolvido. Sua paroquia era a maior em extensão da diocese e de díficil acesso: “capelas a 130 km de distância eram visitadas por meio de lombo de cavalo; cavalgava resignado e feliz porque era uma oportunidade de evangelizar seus paroquianos”, enfreta as intempereis sem nunca desvanecer de seu ideal.

Padre Argemiro empreendedor: em  Cococi criou varias associações e construiu capelas; em Parabum o Ciclo Operário, através do qual fundoua a primeira escola católica: Monsenhor Juveniano Barreto, leavando para lecionar as primeiras professoras diplomadas da vila.

Lutou junto as autoridades estaduais para que Parambu passasse a município, sem ambição pelo poder; com lei Nº 3338 de 15 de setembro de 1956 é instalado, simbolicamente, como município pelas mãos governador Paulo Sarasati. Que nomeia prefeito interino, o Sr. Joaquim Solano Feitosa que veio a renunciar; o Padre Argemiro Rolim de Oliveira assumiu a prefeitura de Parambu por ato governamental, permanecendo como prefeito até 4 de agosto de 1957; os municípios instalados, oficialmente, são realizadas as primeiras eleições municipais, tendo sido eleito o Sr. Francisco Alves Teixeira primeiro prefeito municipal.

Discipinado e obediente a Cúria Diocesana, foi transferido, a pedido de Dom Vicente, deixou a Paroquia de Parambu em abril de 1957. Passou a residir em Crato como hóspede do palácio Diocesano; nomeado delegado da catequese. Como tal, percorreu as cidades da Diocese como celebrante e ministrando a catequeze mediante a  projeção de filmes. Os adolecentes mauritienses da época jamais esquecerão a pelícola: Macelino Pão  Vinho, filme de 1957 com  Pablito Calvo (o menino Marcelino) e com o ator, que tornou-se famoso, Fernando Rey (o frade narrador).

Em 1962 a Diocese resolve nomeá-lo vigário de Orós, em 1964, recebe a provisão de vigário econômico de Mauriti, para permanecer por 15 anos . Ao chegar, após receber as chaves da paróquia, em um “ato de humildade, solicitou uma batina a essa comunidade, pois a que usava era de segunda mão e já estava por demais desbotada”.

Em Mauriti voltou a se realizar como o grande  empreendedor que sempre carregou comsigo: implatou a Escola Normal no Colégio Paroquial, levando freiras para administrá-la; conseguiu alimentos para a população carente, tecidos e roupas; através da LBA promoveu cursos de corte e custura, bordados e arte culinária; fundou  Casa do estudante, onde acolhia estudantes pobres dos distritos; criou  a Associação de Proteção a Maternidade e a Infância de Mauriti e Casa de Parto, para atender as parturientes carentes; cuidou do recém-nascido  com a assistência neonatal, transformando esse serviço em Maternidade e Puericultura de Mauriti; em face da grande demanda transformou sua maternidade em Hospital Maternidade São José, perseverando até o presente, como a única casa de saúde de Mauriti.

Seu zelo pelo crescimento das pessoas levou a encaminhar rapazes e moças para seminário e convento; formava grupos de jovens, coroinhas, cruzadinhas, legionários, filhas de Maria e associação do coração de Jesus, como uma forma de estimular vocações.

“Alma inocente e generoso, uma alma privilegiada” palavras de Rose Moreira Rolim, sua sobrinha, “teve seus horizontes interiores voltados para a contemplação, conducentes a uma honra de suprema magnificência”.

Em ato de agradecimento, pôs morte, devolveu a comunidade de Mauriti sua última batina aquela com a qual “foi sepultado e que depois de 17 anos na necrópole” subsistiu as intemperes, de maneira que a “própria terra não a consumiu e a respeitou”.

Na simplicidade dos humildes fez sua caminhada e não arredou de seu lema “Onmia Natione Dei Voluntatis”, esse era seu sentimento quanto ao ideal da soberania popular, hasteado como sua bandeira de luta; Padre Argemiro se consubstancia na palavra do Papa Francisco “Não tenho ouro nem prata, mas trago comigo o mais valioso: Jesus Cristo”, que com sabedoria dividiu com os fiéis maurititense e multiplicou-o em serviços prestados a nossa comunidade, como o fez Jesus nas bodas de Caná, no silêncio e na resignação.

FRANCISCO CARTAXO MELO

Bibliografia: “Um Coração para Amar a Deus”, Padre Argemiro Rolim, Et alii – (org. Rose Moreira Rolim)

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